segunda-feira, 27 de outubro de 2014

23. Tim Parker Strikes Again.

Paguei o táxi e desci, olhando em volta tinha ido apenas uma vez ali e reconheci o galpão, respirei fundo e andei até lá. Logo vi Lauren treinando com uma outra garota, ela estava concentrada, seu semblante estava sério e ela estava suando. Fiquei encarando-a por alguns minutos, seus cabelos negros estava amarrando em um rabo de cavalo e havia alguns fios de cabelo grudados em sua testa e pescoço. A garota que treinava com ela olhou-me e sussurrou algo para Lauren, que virou-se e olhou-me, forcei um sorriso e acenei.
- O que faz aqui? – ela perguntou ofegante, mordi o lábio em ver o jeito que ela se encontrava, suada e ofegante, balancei a cabeça negativamente afastando meus pensamentos impróprios.
- Vim falar com você – disse.
- Já conversamos na escola, não lembra? – ela disse.
- É importante – disse olhei ao redor e sussurrei – Preciso compartilhar isso com alguém.
- Porque não compartilha isso com Demi? – ela perguntou com as sobrancelhas arqueadas.
- Porque isso... – dei uma pausa – Porque isso tem a ver com ela, com a família dela.
 Lauren encarou-me por alguns minutos, mordeu o lábio e assentiu.
- Vem – e assim saiu seguindo até uma porta, logo a segui, Lauren abriu e era um escritório, pelo menos parecia um. – Seja rápida.
 Assenti e peguei minha bolsa, abrindo-a e puxando a carta, Lauren encarou-me confusa e logo entreguei a carta a ela.
- De quem é essa carta?
- Leia, depois contarei – pedi, Lauren assentiu e pegou a carta, a abriu e logo começou a ler.
- Certo... – ela disse depois de um tempo – Ainda não entendi.
- Essa carta é da Dianna, mãe da Demi – disse, engoli seco e respirei fundo – E John é meu pai.
- Espera... – Lauren arqueou as sobrancelhas – Seu pai e a mãe da Demi eram amantes?
- Depois que li essa carta comecei a suspeitar que sim – disse – Mas... Meu pai amava minha mãe, mesmo que ela não merecesse, ele a amava e ter um caso com Dianna...
- Não conhecemos as pessoas cem por cento, (SeuNome) – ela falou e mordi o lábio, uma bela indireta.
- E tem mais – decidi ignorar seu comentário – Dianna veio com uma conversa estranha, perguntou se meu pai estava vivo, quer dizer, ela disse algo como se Thomas estava vivo meu pai também poderia está.
- E você acha que ele está? – Lauren perguntou.
- Não... Eu não sei – disse suspirando – Se ele estivesse acho que procuraria contato comigo ou com Nick, não acha?
- Talvez ele esteja tentando proteger você e seu irmão – Lauren disse, passei as mãos pelo os cabelos e encarei o chão. Se ele estivesse vivo, como seria? Ele não teria mentindo assim por tanto tempo, mas...
- Talvez ele esteja mentindo – disse e a encarei – Sonhei com Thomas no dia do meu “ataque” e ele disse que papai era mentiroso, assim como ele, assim como eu.
- Mas é um sonho, (SeuNome) – Lauren disse – É algo na sua cabeça, algo que você quis dizer para si mesma...
- Eu deveria está livre de tudo isso – disse interrompendo-a – Fui inocentada, o pessoal da escola não está mais no meu pé, até mesmo o Tim, mesmo assim os problemas aparecem num piscar de olhos.
- Você é irresistível para os problemas – Lauren disse fazendo-me sorrir, finalmente as coisas tinha voltando ao normal, pelo menos senti que aquele clima não estava mais entre a gente, dei um sorriso de lado e a encarei.
- O que foi? – Lauren perguntou um pouco envergonhada.
- Nada – disse sorrindo – É que... Estava pensando no nosso...
- Esquece isso – Lauren disse séria e levantou-se, porém fui mais rápida e puxei seu braço, fazendo seu corpo colidir no meu. – Pensei que estivesse com a Demi, vi vocês duas conversando no refeitório hoje.
- Então você estava me observando? – perguntei com um sorriso de lado, Lauren revirou os olhos, tentando empurrar-me, porém soltei seu braço e a agarrei pela cintura.
- (SeuNome)... – ela sussurrou, não conseguia tirar o sorriso do rosto, gostava de ver Lauren daquele jeito.
- Ela estava me convidando para ir ao baile – disse e Lauren arqueou as sobrancelhas.
- Convidando você... Sério, mesmo? – Lauren perguntou debochada.
- Mas não... – dei uma pausa – Não posso ir.
- Por quê? – ela perguntou, mordi o lábio e a soltei, afastando-me um pouco.
- Não gosto de festas com as pessoas da escola – disse – A última vez que fui a uma, bem, fui acusada de matar um garoto.
- Também não vou – ela respondeu cruzando os braços – Prefiro ficar em casa assistindo e comendo.
- É exatamente o que vou fazer – disse sorrindo, Lauren franziu o cenho e a vi sorrir de lado.
- Isso é um convite? – ela perguntou, dei de ombros e peguei minha bolsa.
- Entenda como quiser – disse e abri a porta. – Vou deixá-la treinar.
- Pode ficar, claro se quiser – ela disse passando por mim, logo a segui e percebi que havia poucas pessoas treinando agora.
- Eu vou adorar – disse sorrindo, Lauren balançou a cabeça negativamente, sentei-me em um banco e fiquei observando-a enquanto colocava as luvas de volta.
***

 Dia do baile. O grande e esperado dia do baile. Era o assunto mais comentando da escola, Ally e a equipe do jornal estavam organizando. As únicas pessoas que não estavam tão ansiosas para o baile era eu e Lauren, Demi era a mais ansiosa de todas, não conversamos muito durante essa semana, na verdade só nos cumprimentávamos pelo os corredores com sorrisos e acenos.
- Tim Parker ataca novamente – Ally falou sentando-se ao meu lado.
- Como assim? – Lauren perguntou.
- Adivinha quem será o par dele – Ally disse e a encarei esperando a resposta – Demetria.
 Eu meio que deveria adivinhar, algo me dizia que isso poderia acontecer, respirei fundo e olhei para Lauren que tinha as sobrancelhas arqueadas.
- Legal – disse, encarei minha bandeja e de repente me vi sem fome, engoli o seco e forcei um sorriso para Ally – Lembrei que deveria ver o professor de biologia, ele pediu para que eu fosse vê-lo.
- (SeuNome)... – Lauren chamou-me, porém já estava seguindo em direção a saída, mas antes passei pela mesa de Demi e a vi conversando com Tim, nossos olhares se encontraram e logo tratei de desviar.
 Eu deveria ter adivinhado, algo em minha mente avisou-me antes mesmo disso acontecer, eu sabia, sabia que Tim iria chamá-la, sabia que Demi iria aceitar. Queria ter um daqueles sacos nesse exato momento porque com certeza iria explodir a qualquer momento.
- (SeuNome) – ouvi e olhei para cima, Demi me encarava séria.
- O que? – perguntei levantando-me, olhei em volta e me dei conta que estava no campo de futebol.
- Eu ia avisar... – ela começou, então senti uma raiva crescer dentro de mim, fechei os olhos respirando fundo, não poderia explodir agora.
- Quando? – perguntei sentindo a raiva ainda presente em meu tom de voz – Quando eu o visse sair da sua casa ajeitando a gravata?
- Você está me ofendendo – ela disse.
- Porque o Tim? Porque ele? – perguntei, Demi desviou o olhar para o chão.
- Não tinha um par – ela respondeu finalmente olhando-me – Convidei uma pessoa e ela não aceitou, por motivos ridículos.
- Isso não vem ao caso – respondi ríspida – Você poderia aceitar o convite de qualquer pessoa menos do Tim.
- Por quê? Quem deveria ter raiva de alguém era ele, não você – ela respondeu ríspida. – Afinal foi você quem bateu nele.
- Aquele cara... – parei e a encarei – Foda-se, faça o que quiser com a sua vida.
- Quem é você para falar de mim? – Demi disse e assim como eu, ela parecia irritada – Você acha que eu sou boba? Você acha que eu não vejo o que rola entre você e Lauren?
- Eu... – comecei, mas logo parei – Divirta-se no seu baile, divirta-se com o cara que... Divirta-se.
 E antes que ela falasse algo, sai dali deixando-a para trás.
***

 Uma hora dessas as garotas já estavam se preparando para seu esperado baile. Nicholas iria sair e lá estava eu jogada no sofá procurando algo que prestasse na TV, pensei que Lauren havia aceitado meu pedido-não-pedido para me acompanhar, mas aposto que ela também deveria está se preparando para seu baile.
- Tem certeza que você não vai? – Nick perguntou pela milésima vez.
- Não, Nicholas – respondi impaciente.
- Certo, mas caso...
- Não irei – o interrompi.
- Caso você mude de ideia, deixei um presente para você lá em cima – disse e assim saiu, fiquei tentada em ver qual seria o tal presente, mas a preguiça não deixou. Alguns minutos depois de Nick sair, ouvi a campainha tocar e amaldiçoei Nicholas por esquecer as chaves de casa, fui até a porta arrastando-me.
- Nicholas você é um... – parei assim que vi de quem se tratava. Lauren estava segurando duas sacolas e duas caixas de pizza.
- Isso está pesando – ela disse e logo peguei as sacolas.
- O que é tudo isso? – perguntei seguindo até a cozinha e colocando as sacolas em cima da mesa.
- Filmes, refrigerantes, salgadinhos, chocolate e... – deu uma pausa pondo as caixas de pizza em cima da mesa – Pizza.
- Não me disse que iríamos acampar – disse, Lauren sorriu e deu um tapa em meu braço. – Preparo nosso lanche calórico e você escolhe o filme.
 E não demorou muito para preparar o lanche, rapidamente entrei na sala tentando equilibrar-me com duas latinhas de refrigerante, as caixas de pizza e as sacolas com salgadinhos e o chocolate.
- Diga que escolheu um filme bom – disse sentando-me ao seu lado pondo as coisas em cima da mesinha. – Nada de romance ou drama.
- Gatinhas e gatões – ela respondeu e eu arqueei as sobrancelhas – Que foi?
- Está tendo baile na escola que eu tentei fugi e consegui, e você me aparece com um filme desses? – perguntei.
- Você reclama de mais – Lauren respondeu – É esse filme ou um romance mega hiper meloso.
 Lauren deu play e logo o filme começou, tentei me concentrar no filme, mas minha mente ia até Demi, pensando em como era iria, com certeza ela estava maravilhosa.
- Segui você quando saiu do refeitório – Lauren disse e a encarei – Ouvi vocês duas conversando.
- Você estava nos bisbilhotando, Lauren Jauregui? – perguntei, mas estava com medo do que ela havia ouvido.
- O que ela quis dizer com motivos ridículos? – ela perguntou, mordi o lábio, peguei o controle e pausei o filme.
- Quando disse para Demi que não podia ir ao baile – mordi o lábio e continuei – Ela disse que eu não queria ir por causa... Por causa da morte do Tom, disse que eu estava me punindo e...
- Você está? Quer dizer, você não quer ir ao baile porque está se punindo pela morte do seu irmão? – Lauren perguntou.
- Eu o matei, Lauren – disse olhando-a – Não conseguiria me divertir, dançar pensando no que fiz e isso iria... Demi iria perceber e iria afeta-la também.
- Ela está certa – Lauren disse – Você não deve se punir assim. Ainda está em tempo.
- O que? – perguntei vendo-a levantar-se me puxando também.
- Iremos a esse baile e você vai se divertir como nunca se divertiu antes. 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

22. Letter.

 A única coisa que queria depois que sai do reformatório era recomeçar minha vida, estudar, conhecer novas pessoas, refazer minha amizade com Demi, coisas simples. Mas não. Não sei como estou me mantendo em pé, talvez seja a cafeína que ando tomando, eu mal durmo, não por de insônia, mas porque não consigo. Tento fechar os olhos, mas penso nos meus problemas e não consigo mais dormir. E agora só consigo pensar em Thomas, em como seu corpo foi parar em um carro. Alguém havia movido seu corpo, alguém que me viu empurrando-o, alguém que estava lá quando encontrei-me com ele, mas quem? Não me passava pela cabeça ninguém, pensei em Demi, mas acho que não seria ela, Demi ficou assustada com o que havia acontecido e não tinha coragem de voltar lá. Isso tudo era um quebra cabeça e havia várias pesas faltando.
 E ainda tinha Lauren. Eu a vi nos corredores, mas ela apenas baixou a cabeça e seguiu sem falar comigo, não acredito que perdi a única pessoa que havia acreditado em mim. Estava em uma mesa sozinha, tentando me concentrar no livro que havia pegado na biblioteca, mas era impossível. Meu olhar ia para a mesa um pouco mais afastada da minha, onde Lauren estava sentando com Ally e mais algumas pessoas.
- Posso sentar? – ouvi e olhei para cima, Demi.
- Claro – disse e rapidamente sentou-se, ficamos nos olhando por alguns minutos, Demi parecia querer falar algo, mas toda vez que abria a boca para falar algo fechava rapidamente. Fiquei tentada a perguntar se ela sabia sobre o corpo de Thomas no carro, mas algo me dizia que ela não queria falar sobre aquilo.
- O que está lendo? – ela perguntou tentando puxar assunto.
- As vantagens de ser invisível – respondi, Demi assentiu e mordeu o lábio – Você está bem?
- Sim – ela respondeu rapidamente – Estou nervosa, não é todo dia, na verdade, isso nunca me aconteceu.
- Não fique nervosa – disse dando um sorriso e logo ela retribuiu, rapidamente senti aquele clima tenso se desfazer. – Então, o que quer?
- Semana que vem é o baile – ela começou, arqueei as sobrancelhas – E eu estava pensando... Eu sei que vai parecer estranho, mas prometo não ligar para o que as pessoas irão dizer.
- Isso é um convite? – perguntei me divertindo com seu nervosismo, Demi mordeu o lábio e encarando sua bandeja, assentiu.
- Você está adorando me ver nervosa, né? – ela perguntou.
- Você não sabe quanto – respondi sorrindo, Demi revirou os olhos, mas estava sorrindo.
- E então? – por mais que estivesse adorando aquele clima que tinha ficado, eu não poderia, fechei o livro e coloquei em cima da mesa.
- Eu adoraria – respondi e a vi sorrir – Mas não posso.
- Ah... – saiu mais como um suspiro, Demi desviou o olhar – Porque não?
- Não gosto de bailes – menti – E já marquei um compromisso.
- Legal – ela disse, mordi o lábio.
- Eu adoraria, Demi, seria a melhor coisa que poderia... – comecei, mas parei – Mas não posso.
- Tudo bem – ela disse forçando um sorriso, mas sabia que estava triste – Baile é besteira, não tem problema.
- Não é besteira – disse – Só que...
- Você não pode, eu sei, já entendi – ela disse revirando os olhos, então levantou-se pegando sua bandeja – Vou deixa-la em paz.
- Demi – a chamei, Demi balançou a cabeça negativamente e antes de seguir em direção a mesa de seus amigos, virou-se para mim e disse.
- Sei por que não quer ir, e acho que você está exagerando – ela disse e senti uma amargura em seu tom de voz – Foi um acidente, (SeuNome), e acho que não deva se punir por causa disso.
  Abri a boca para falar, mas Demi já se sentava com seus amigos, baixei a cabeça e encarei minha bandeja. Estava me punindo sim, mas com razão.  
***

 Estava andando de volta para meu armário, o que Demi havia me dito estava em minha mente e não queria sair, não consegui terminar meu almoço então decidi sair do refeitório o mais rápido possível.
- (SeuNome)? – ouvi e virei-me, arqueei as sobrancelhas surpresa e fiquei um momento pensando se aquilo era tudo em minha cabeça. Ele estava exatamente igual desde a última vez que eu havia lhe visto, mas seus cabelos castanhos claros estava raspados e parecia nascer cabelos agora, uma barba rala começava a nascer, além das olheiras que haviam debaixo de seus olhos.
- Tim – disse em um sussurro, ele tinha as mãos nos bolsos da calça jeans e logo o vi vindo em minha direção – O que...
- Está surpresa? – ele perguntou, não tinha medo algum de Tim Parker, tinha até dado uma surra nele, mas agora, Tim parecia diferente.
- Um pouco – disse e o vi parar em minha frente – Lauren havia me dito que você...
- Tinha ido embora? – ele perguntou e logo assenti – Não fui, apenas passei alguns dias em casa, fui assaltado e os caras me bateram.
- Tim... – comecei – Eu sinto muito por aquilo... Eu estava nervosa, a polícia estava atrás de mim...
- Eu entendo, (SeuNome) – ele disse encarando-me intensamente – Sem problemas.
- Sério? – perguntei receosa, Tim deu um sorriso de lado e deu mais alguns passos em minha direção.
- Não sou de guardar magoa – ele disse – Eu meio que mereci, afinal inventei coisas sobre você e Demi, certo?
- Somos só amigas – respondi assentindo – E eu sinto muito por aquilo.
- Tudo bem – ele disse dando um sorriso e estendeu a mão em minha direção – Amigos?
- Amigos – disse apertando sua mão, forcei um sorriso e ele fez um mesmo.
- Vou deixá-la ir – ele disse afastando-se – Se cuida, (SeuNome).
 Isso estava estranho, poderia está errada, mas Tim não parece esquecer rápido, principalmente alguém que lhe deu uma surra. Decidi esquecer isso, já tinha bastante coisa em minha cabeça, essa não precisava ser mais uma, continuei indo em direção ao meu armário. Lauren conversava com Ally, ela estava de costas e me perguntei se ela ainda estava chateada comigo, abri a porta do armário e olhei mais uma vez para as duas, Ally logo me avistou e acenou, forcei um sorriso e acenei, Lauren virou-se e logo sua expressão mudou. Magoa, era isso que eu via em seus olhos. Logo Ally seguiu até mim puxando Lauren consigo.
- Tenho ótimas notícias – Ally disse. – Estava até falando com Lauren.
- Que notícias?
- Tim saiu do jornal – Ally disse e vi que estava bastante animada, arqueei as sobrancelhas surpresa.
- Por quê?  
- Ele veio com uma historinha que daria um tempo no jornalismo, pelo menos estou livre dele – Ally disse – Mas ele voltou bastante estranho.
- Voltou? – perguntei e vi Lauren encarar-me finalmente.
- Ele foi assaltado e os caras bateram nele – ela explicou – Ele ficou alguns dias em casa, disseram que era para não verem os hematomas.
- E ele está bem agora?
- Parece que sim – Ally disse dando de ombros – Vou ter que deixa-las, tenho que ver algumas coisas com o pessoal, vejo vocês na sala.
- Até, Ally – disse acenando, ela fez o mesmo e logo saiu, virei-me e Lauren encarava-me.
- Oi – disse sem jeito, Lauren deu um sorriso sem mostrar os dentes – Liguei para você ontem e...
- Meu celular ficou na bolsa – Lauren disse cruzando os braços, abri a boca para falar algo, mas voltei a fecha-la rapidamente, não tinha nada para falar, Lauren estava com raiva de mim e estava com razão, não confiei o bastante nela.
- Eu sinto muito – disse depois de um tempo em silencio – Não confiei em você e... Me desculpa.
- Não tem problema – ela disse – Você não quis contar, eu entendo...
- Eu queria – disse olhando-a – Mas... Não consegui.
- Como disse antes, não tem problema – Lauren falou e senti a magoa em sua voz – Mas pensei que éramos amigas.
- Nós somos amigas, Lauren – disse – Confio em você mais do que... Mais do que qualquer outra pessoa.
- Então porque não me contou sobre o Tom? Sobre como ele foi morto? – ela perguntou, desviei o olhar para o chão – Quer saber? Tenho que ir à aula.
 Abri a boca para protestar, mas Lauren já seguia em direção a sala, passei as mãos pelo os cabelos e suspirei, tinha acabado de perdê-la.
***

 Não voltei para sala de aula, peguei minhas coisas e sai da escola sem ninguém me ver, não conseguia ficar lá. Abri a porta de casa com cuidado, esperando Nick está sentando no sofá assistindo alguma coisa na TV, mas a sala estava silenciosa e a casa também, Nick deve ter ido trabalhar ou ter saído. Subi as escadas e fui em direção ao meu quarto, porém parei, virei-me e andei até lá. A porta estava trancada, onde Nick deixava as chaves? Vamos lá, (SeuNome), onde... Andei até seu quarto e estava aberto, havia uma caixa em cima do criado mudo, a abri e lá estava uma chave. Uma vez enquanto Nick me visitava no reformatório o ouvi dizer que guardava as chaves em uma caixinha em cima do criado mudo, ele sempre pagava alguém para manter aquele quarto limpo. Me surpreendi em ver que era verdade, não havia muita poeira já que todos os moveis eram cobertos por um pano branco. Reconheci a cama, o guarda roupa, a penteadeira, a escrivaninha, fechei os olhos e lembrei de papai e mamãe ali, muitas vezes brigando e poucas vezes sorrindo um para o outro, fui até a escrivaninha e tirei o pano jogando-o no chão. Ela parecia bem cuidada, passei os dedos pela madeira e sentei-me na cadeira que muitas vezes vi meu pai sentado. Se me concentrasse o bastante, poderia senti seu cheiro ali, abri os olhos e vi três gavetas, porém algo me chamou atenção. A última gaveta tinha envelopes, milhares deles, peguei os envelopes, mas acabei me arrependendo, todos eles estavam vazios, apenas envelopes. Balancei a cabeça negativamente e então minha atenção foi para um envelope, parecia novo já que sua cor não estava amarelada como os outros e não parecia faltar nenhum pedaço nas pontas, o peguei e o avaliei. Passei os dedos pelo o envelope, respirei fundo e o abri. Era uma bela caligrafia e mesmo que não tivesse lido de quem tinha dado aquela carta para meu pai, eu poderia imaginar que era dela. Enquanto analisava sua caligrafia perfeita, fiquei pensando no que tinha escrito ali, respirei fundo novamente e comecei a ler.
 “John, eu sinto muito. Sinto muito por não ter conseguido. Eu queria, queria sim fugir com você, mas não consegui. E acho que você também não conseguiria, principalmente agora que Anne está grávida novamente, com certeza você não a deixaria, não deixaria que ela cuidasse de uma criança sozinha. Mas quero te agradecer, se você não tivesse feito essa proposta, eu não poderia abrir os olhos para a realidade. Eddie é um homem bom, sei que irá cuidar de mim e dessa criança que estou carregando, assim como você cuidará de Anne, Nick e dessa garotinha que irá nascer. Sei que o magoei, mas eu tive que fazer isso, para o bem de toda nossa família, espero que entenda e principalmente espero que entenda que não podemos nos encontrar mais, como disse antes, quero começar uma família com Eddie e sei que quer ter uma família com Anne. Sempre vou amar você, John, é uma pena que o nosso amor não deu certo, espero que compreenda
Dianna.”
 Tive que ler e reler a carta. Papai amava a mamãe, ele sempre dizia isso á ela, eu sempre escutava... E Dianna... Ela tinha um bom relacionamento com Eddie, os via feliz quando mamãe os chamava para jantar em casa e também via o jeito que papai ficando quando ela chegava com Eddie... Nunca entendi, mas agora eu sei, papai tinha um caso com Dianna.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

21.T.P.H is Dead.

 Lauren estacionou o carro em frente de um galpão abandonado, desafivelou um cinto e olhou-me assim que viu que não estava fazendo o mesmo.
- Um galpão abandonado? – perguntei arqueando as sobrancelhas.
- Não julgue o livro pela capa – ela disse, balancei a cabeça negativamente e dei um sorriso de lado – Olha você sorriu, já é um começo.
- O que viemos fazer aqui? – perguntei.
- Você irá ver, é claro, se sair do carro – Lauren disse saindo do carro, suspirei e fiz o mesmo. Olhei em volta e vi que o local era silencioso, bastante silencioso. Lauren abriu sua bolsa e rapidamente tirou uma chave, subiu uma pequena escada, parando em frente a um portão, tentei ver o que ela estava fazendo, Lauren abria o portão. Não era um galpão abandonado, era uma academia de artes macias, havia tatames, sacos de bater, luvas... Olhei para Lauren sem entender.
- Eu disse – ela falou e entrou, rapidamente a segui.
- O que é tudo isso? E porque você tem a chave? – perguntei vendo-a deixar a bolsa em cima de um banco.
- É uma academia de artes maciais – Lauren respondeu – E eu tenho a chave porque eu meio que passo o dia todo aqui.
- Então você trabalha aqui? – perguntei, Lauren andou até uns armários abrindo um.
- Não digo trabalho, eu venho aqui, treino, arrumo uma coisa ali e aqui, essas coisas – ela disse pegando dois pares de luvas.
- Quem diria – disse cruzando os braços – Lauren Jauregui na verdade é uma lutadora, mas porque me trouxe até aqui?
- Teve um tempo da minha vida, que eu já cheguei dizer a você – Lauren começou vindo em minha direção – Eu era bem, como posso dizer, explosiva, depois que sai do reformatório e me mudei para cá, então descobri esse lugar e passei a vim todos os dias.
- Ainda não entendi – disse, Lauren deu um sorriso de lado e pegou em minhas mãos, havia alguns hematomas nas mesmas, Lauren passou os dedos pelos os mesmos e rapidamente afastei-me – Eu cai.
- Caiu? Certo – ela disse arqueando uma sobrancelha e voltou a pegar minhas mãos, rapidamente vi que estava colocando as luvas. – Eu sei o que você quis dizer lá no cemitério, que só consegue relaxar quando quebra algo, eu era assim, na verdade ainda sou, mas ao contrario de quebrar algo, eu bato.
- Na pessoa? – perguntei, Lauren sorriu e negou com a cabeça.
- No saco – ela respondeu puxando-me até um saco de bater, arqueei as sobrancelhas – O que foi?
- Não... – comecei, porém fui interrompida.
- Bata – ela pediu – Pense nas pessoas que te magoaram, pense nas coisas que te magoaram e bata.
- Isso é ridículo – disse dando um sorriso debochado.
- Apenas tente, se você continuar estressada te levo até o cemitério novamente e você pode fazer qualquer coisa com a lapide dele – Lauren propôs, suspirei e virei-me para o saco.
- Vamos lá, (SeuNome) – Lauren pediu e então dei o primeiro soco, o saco nem se mexeu, olhei para Lauren – Tente.
 Dei outro soco e veio à imagem de Tom em minha mente, então logo estava socando o saco com todas minhas forças, pensei em todos que me fizeram sofrer, que me acusaram, que mentiram para mim. Cada soco que dava pensava em alguém diferente, Thomas, o detetive, minha mãe, meu pai, até mesmo Demi. Parei os socos porque estava ofegante, suando e chorando, encostei minha cabeça no saco de bater deixando as lagrimas descerem. Fiquei um tempo assim, até que percebi que Lauren ainda estava ali, limpei o rosto e a encarei.
- Desculpe... – sussurrei, Lauren deu um sorriso solidário e aproximou-se de mim.
- Não precisa pedir desculpas – ela falou pegando em minhas mãos e tirando as luvas – Como está se sentido?
- Um pouco melhor – disse e a vi sorrir.
- Então ainda tenho que te levar até o cemitério? – ela perguntou, dei um sorriso e balancei a cabeça negativamente.
- Não, não precisa – respondi e fiquei encarando-a enquanto a mesma tirava as luvas.
- Pronto – Lauren disse levantando o rosto, sem nem mesmo pensar, passei meus braços por sua cintura e a beijei. Lauren parecia tensa, porém assim que pedi passagem com a língua, ela retribuiu. Não sei por que fiz isso, mas Lauren havia ficado comigo em momentos que ninguém mais ficou, nem mesmo Demi. E sim, eu gostava da Lauren, no começo como amiga e agora talvez como algo mais, mas não queria pensar nisso agora, só queria aproveitar o momento.
 Foi Lauren quem separou o beijo, ela empurrou-me levemente, porém continuei com os braços em sua cintura, ela encarava-me ofegante e eu não estava diferente. Então me dei conta que eu menti para ela, menti sobre Tom, menti para a única pessoa que acreditou em mim.
- Ele está morto – sussurrei e a vi arquear as sobrancelhas.
- O que...
- Thomas – disse interrompendo-a – Thomas está morto.
- Como? – Lauren perguntou – Como você sabe?
- Porque eu o matei – disse encarando o chão e logo Lauren saiu de meus braços, dando alguns passos para trás.
- Você o... – ela não terminou, levantei a cabeça finalmente olhando-a e vi a pior coisa que poderia ver, o olhar assustado de Lauren.
- Lauren... – disse dando alguns passos em sua direção, porém só fez com que ela desse mais outros para trás – Eu tive que fazer... Eu...
- Preciso ficar sozinha, (SeuNome) – Lauren disse e pude ver seus olhos marejados. Assenti e andei em direção a porta, virei-me e nem mesmo esperei sair dali para voltar a chorar, antes de sair virei-me e Lauren continuava no mesmo lugar olhando para o chão.
- Eu sinto muito, Lauren – disse e abri a porta, saindo dali o mais rápido possível. 
***

 Não sei como não me perdi, depois que sai do galpão comecei a andar sem rumo. Só queria sair dali, queria tirar aquele olhar de Lauren da minha mente, mas era impossível, mais uma coisa para me atormentar a noite, junto com o corpo de Thomas no meio das pedras. Sorri em perceber que já estava em casa, porém o sorriso desapareceu assim que vi a viatura da policia parada em frente de casa. Pensei em correr e fugir novamente, mas para onde eu iria? Lauren soube quem eu era de verdade, soube que eu era uma assassina, a única pessoa que eu poderia pedir ajuda era Demi, mas o que aconteceria depois? Eu não poderia ficar em sua casa, seria o primeiro lugar onde a policia iria procurar, eu não tinha para onde ir. Não seja covarde, (SeuNome) sussurrei para mim mesma, poderia ter matado Tom, eu era uma assassina, mas tinha coragem, se a policia estivesse ali para me prender, eu iria. Respirei fundo e abri a porta, pude ouvir a voz de Nick, andei até a sala e finalmente os vi.
- Você chegou – ouvi a voz de Nick e percebi quem estava ao seu lado, prendi a respiração só de vê-lo ali.
- O que está acontecendo? – perguntei, o policial Adams olhou para Nick e logo depois para mim.
- Sente-se – Nick pediu calmamente, engoli o seco e andei até o sofá.
- O que... – comecei, mas não consegui continuar, as palavras não conseguiam sair, minhas cordas vocais haviam sumido.
- Viemos aqui falar sobre Thomas Harris – o policial disse olhando para Nick e de repente esqueci de como respirava. – Encontramos o corpo, Thomas está morto.
 Minha visão ficar embasada, a casa começou a rodar e percebi que estava respirando pela boca.
- (SeuNome), você está bem? – Nick segurava meus ombros e sua expressão era de preocupação.
- Sim... É que... – olhei para cima e vi o policial encarando-me também preocupado – Thomas foi encontrado?
- Sim – ele falou e mordeu o lábio.
- E onde... Onde vocês o encontraram? – ele perguntou.
- Em uma estrada – o policial respondeu e franzi o cenho confusa – Thomas sofreu um acidente de carro, achamos que ele estava tentando fugir, então tentou desviar de algo, perdeu o controle e capotou.
- Então ele... – não continuei, o policial Adams mordeu o lábio e assentiu.
- Seu irmão morreu de acidente de carro e dessa vez é verdade. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

20. Little Explosion.

 Fiquei pensando no que Demi havia me falado. Eu teria que esquecer isso, teria que viver com isso, não por mim, mas sim por causa de Demi e Nick. Seria difícil, toda vez que fechava os olhos via o corpo de Thomas no meio daquelas pedras, seu olhar sem vida, a boca entre aberta. Porem, como ela mesma disse, eu teria que tentar viver com isso, por ela.
- (SeuNome) – ouvi e virei-me rapidamente, seu cabelo loiro caindo nos ombros, seu semblante sério, Dianna.
- Ah... Oi – disse e a vi caminhar até mim, olhei em volta procurando alguma câmera, realmente era inacreditável ver Dianna falando comigo.
- Soube que você foi inocentada – ela disse mantendo uma distancia segura.
- Encontraram a arma do crime – disse levemente incomodada com aquilo, e com certeza ela também estava.
- Soube disso também – ela engoliu o seco e demorou um pouco para falar – Thomas, foi a digitais dele na arma.
- Sim, foi o Tom – disse sentindo-me cada vez mais desconfortável com aquilo.
- Então ele está vivo – ela afirmou e pude senti um calafrio, não estava mais – E se ele está vivo... Seu pai também deve está.
- Eu não... – não sabia responder e pela primeira vez desde que tudo isso ocorreu me veio essa possibilidade na mente, se Thomas estivesse sobrevivido ao acidente, papai também... – Eu não sei dizer.
- Bem, só perguntei por que deve ser difícil ver pessoas que supostamente estariam mortas aparecer assim.
- É bem difícil mesmo – disse – Mas já passei por coisas piores.
 Ela assentiu e forçou um sorriso, retribui o falso sorriso e segui em direção a casa. Abri a porta ainda pensando no que Dianna havia falado, papai estaria vivo? Mas se estivesse porque não...
- (SeuNome)? – ouvi a voz de Nick.
- Sim? – perguntei e logo o vi levantar-se do sofá.
- Não consegui conversar com você depois que... – ele parou – Bem, você sabe e depois que você saiu para a escola...
- Vai logo ao assunto, Nicholas – disse, ele assentiu e fez um sinal para eu sentar no sofá, revirei os olhos, porém obedeci.
- Queria falar sobre o... Sobre o Tom – ele disse.
- O que tem ele? – perguntei rapidamente, Nick mordeu o lábio e fez um sinal para eu aproximar-se dele, logo fiz o que ele mandou.
- Deve ser difícil, é difícil para mim – Nick começou – Saber que o nosso irmão...
- Meio irmão – o corrigi.
- O nosso meio irmão pode está vivo, é uma noticia e tanto – ele deu uma pausa, parecendo escolher bem às palavras – Não faço a mínima idéia do porque ele fez aquilo com aquele garoto e colocou a culpa em você, mas quero que saiba que iremos passar por isso juntos, como sempre.
- Eu sei – disse sorrindo, ele retribuiu e logo levantei-me – Nick, qual era a relação do papai com a Dianna, mãe da Demi?
- O que? Não entendi – ele disse confuso.
- Quer dizer, eles eram amigos de longa data, não eram?
- Eles se conheciam desde crianças – Nick respondeu – Pelo menos é isso que eu sei, mas porque a pergunta?
- Por nada – respondi – Vou subir, tenho teste de Literatura amanha.
- Boa sorte então – Nick disse sorrindo, forcei um sorriso e logo subi em direção ao quarto, antes de entrar em meu quarto, parei e fiquei olhando para a porta ao lado do quarto de Nick, o quarto dos nossos pais. A porta ficava trancada, eu e Nick concordamos que seria melhor assim. Passava por essa porta e nunca me deu vontade de abri-la, mas agora a olhando, senti uma vontade enorme de ver o que havia lá dentro. Balancei a cabeça negativamente, era uma idéia ridícula, abri a porta do quarto, jogando-me em cima da cama, senti meus olhos pesarem e logo adormeci.
 Os barulhos dos trovões me fizeram acordar, abri os olhos assustada, estava chovendo? Mas quando cheguei da escola não havia um sinal que iria chover, levantei-me sentando-se na cama, virei-me e congelei assim que vi.
- Olá irmãzinha – ele estava com a mesma roupa que tinha o encontrado, porém a roupa estava suja de barro e estava rasgada em algumas partes, Thomas estava sentado na janela do meu quarto.
- Tom? – sussurrei na verdade, como ele poderia está ali? Ele não havia morrido? Eu o vi no meio daquelas pedras...
- Está surpresa? Pensou que eu estivesse morto, maninha? – ele disse aproximando-se de mim, levantei-me rapidamente e dei alguns passos para trás.
- A policia está atrás de você – disse e senti minhas costas baterem contra o guarda roupa, Tom deu um sorriso irônico e balançou a cabeça negativamente.
- Como você é burra – ele disse ficando sério – Eu estou morto, sua idiota! A policia irá achar meu corpo e irão achar você, (SeuNome).
- Se eu não tivesse feito... – comecei, mas fui interrompida por suas mãos em meu pescoço.
- O que fez estaria morta? Bem, isso você tem razão – ele disse apertando suas mãos em torno de meu pescoço – Mas a policia não acreditará, não é? Ou você acha que irão? Afinal você já matou alguém antes, não é mesmo (SeuNome)?
- Eu... Eu não... Matei ninguém – disse com dificuldade, Thomas deu uma gargalhada aterrorizadora.
- Você matou sim, (SeuNome) – ele disse – Uma Harris nunca desaponta a família, você matou alguém (SeuNome) e agora é uma Harris oficialmente.
- Eu não... – comecei, porém era em vão, Thomas já apertava meu pescoço com força.
- É sim – ele disse – Alem de matar alguém você mentiu para policia, você é uma mentirosa assim como eu, assim como nosso querido papai.
 Senti minhas pernas vacilarem, o quarto rodou e senti minhas costas deslizando para o chão, Thomas me olhava com um olhar de dever cumprindo e sabia que o que estava para acontecer...
 Abri os olhos rapidamente, olhei para o lado e vi que ainda estava manhã e não chovia. Passei a mão na testa e vi que a mesma esta encharcada, minha respiração estava descompassada e minha roupa grudava no corpo por conta do suor. Levei um tempo até finalmente perceber que tudo tinha sido um sonho, que Thomas estava morto, que não estava em meu quarto... Então me dei conta que estava chorando, as lagrimas agora se misturavam com o suor, havia sido o pior sonho que tive com Thomas ali falando aquelas coisas, acusando-me por sua morte, que era verdade, ele não havia mentido. Eu o matei. E não sabia se conseguiria esconder aquilo, pela primeira vez pensei em mim e não nas outras pessoas. Poderia tentar viver com essa culpa, mas sabia que iria enlouquecer caso não contasse e não queria acabar como Thomas, uma pessoa louca, psicótica.
Tomei um banho demorado, tentei não pensar no sonho, mas era impossível, quando fechava os olhos via Thomas no meu quarto, com as mãos em meu pescoço. Sai do banheiro, vesti-me apressadamente e sai do quarto, cheguei à cozinha e vi Nick sentando a mesa lendo o jornal.
- Uma garota ligou para você – Nick disse encarando-me – Lauren, você conhece?
- Sim, mas o que ela queria? – perguntei.
- Falar com você – Nick falou – Disse que você estava dormindo, então ela disse que ligava depois e desligou.
- Ela não disse o que queria? – perguntei e Nick apenas balançou a cabeça negativamente. Corri em direção as escadas, entrando em meu quarto e pegando meu celular, disquei seu numero e não demorou a atender.
- Alô.
- Oi Lauren, aqui é a (SeuNome), acho que isso você sabe – comecei e pude ouvir seu riso do outro lado da linha – Nick disse que você queria falar comigo.
- Só liguei para saber se você estava bem – ela disse e não pude evitar de sorrir. – Você está?
- Não... Quer dizer, posso melhorar um pouco – disse seguindo para fora do quarto – Você pode me encontrar daqui a vinte minutos? Em frente de casa.
- Claro, mas o que você quer fazer?
- Não se preocupe, só chegue em vinte minutos – disse, me despedi e logo desliguei, guardei o telefone no bolso.
- Nicholas, você ainda tem seu taco de beisebol? – perguntei da escada, logo ouvi seus passos, então Nick apareceu no fim da escada.
- Tenho sim, por quê? – ele perguntou desconfiado.
- Vou “jogar” um pouco – disse e virei-me, indo até seu quarto.
***

 Estava parada em frente de casa com o taco de beisebol do lado esperando Lauren. Eu não só estava com aquele sonho na cabeça, mas também estava com o que Thomas falou no sonho. "Alem de matar alguém você mentiu para policia, você é uma mentirosa assim como eu, assim como nosso querido papai."
 O que ele queria dizer com aquilo? Papai mentiu para policia? Sobre o que?... Vi o carro de Lauren parar em frente de casa, levantei-me rapidamente levando o taco comigo.
- Oi – ela disse sorrindo, sorri de volta adentrando no carro, joguei o taco no banco de trás e coloquei o cinto – Não sabia que íamos jogar beisebol, vou logo dizendo que não...
- Você sabe onde fica o cemitério? – perguntei interrompendo-a, Lauren encarou-me confusa e levou um tempo até finalmente responder.
- Sei sim, mas por que...
- Me leve até lá – disse olhando para frente, Lauren assentiu e ligou o carro seguindo em direção ao cemitério.
 Ninguém falava nada, tanto eu quanto Lauren, sabíamos que havia um clima estranho ali, mas preferíamos assim. Ela não perguntou e eu a agradeci mentalmente, não queria explicar uma coisa que até mesmo para mim, parecia loucura. O caminho até o cemitério não demorou, o que foi uma coisa boa, Lauren estacionou seu carro em frente ao cemitério e encarou-me.
- Pronto – ela disse – Agora me diz por que estamos aqui.
- Preciso fazer uma coisa – disse desafivelando o cinto, sai do carro e abri a porta do banco de trás.
- O que vai fazer, (SeuNome)? – ela perguntou enquanto pegava o taco, fechei a porta, abaixei-me e a encarei pela janela do carro.
- Se você quiser esperar por mim tudo bem, mas se não... – dei uma pausa – De qualquer maneira, isso será rápido.
- (SeuNome)! – Lauren chamou, respirei fundo e segui para entrada do cemitério, rapidamente pude ouvir a porta do carro sendo fechada e os passos de Lauren – O que você vai fazer com esse taco, (SeuNome)?
 Já sabia onde ficava a lapide, sentia meu coração bater forte contra o peito e minha respiração ficando rápida.
- (SeuNome)! – senti sua mão em meu braço, fazendo-me virar para encara-la – O que você vai fazer?
- Você já viu aquelas pessoas que só conseguem relaxar quando quebra alguma coisa? – disse e vi Lauren ficar mais confusa ainda, ela abriu a boca para falar algo, porém continuei – Bem, se não viu, vai ver agora.
 Puxei meu braço de volta e parei bem em frente a lapide, agachei-me e vi as letras prateadas.
- Não quero que você venha me visitar mais, Thomas – sussurrei – Sei que você não está aí, mesmo assim irá observar o que eu vou fazer.
 Levantei-me e olhei para a lapide do papai, respirei fundo e levantei o braço que segurava o taco, me concentrei bastante, porém antes de abaixar o braço, vi seu vulto ficar em minha frente, entre a lapide e eu.
- Não faça isso – Lauren disse, abri a boca para protestar e voltei a fechá-la assim que percebi que estava chorando.
- Eu preciso... – comecei e logo Lauren tirou o taco de minhas mãos.
- Escuta, sei que sentimento é esse, querer quebrar algo para se sentir melhor – Lauren disse encarando-me – Acredite em mim, você não vai se sentir melhor, mas sei algo que pode fazer você sentir melhor.
- O que? – perguntei, Lauren sorriu e pegou em minha mão, puxando-me para saída do cemitério.
- Confie em mim. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

19. Welcome Back.

Não consegui dormir quando cheguei em casa. A sensação de esta livre, de volta para minha casa foi incrível, mas logo minha consciência voltou a me assombrar. Assim que fechava os olhos via as cenas dos últimos acontecimentos, Thomas enforcando Demi, Thomas caindo, Thomas morto. Fiquei deitada na cama olhando para o teto com medo que a policia a qualquer hora entrasse por aquela porta e me prendesse, porém agora eles tinham razão. Eu realmente tinha matado algo, meu próprio irmão.
 Quando o despertador tocou, eu já havia acordado, tomando um banho rápido e vestindo a primeira roupa que vi. Antes mesmo de chegar à cozinha, pude sentir o cheiro de panquecas, Nicholas.
- Bom dia – ele disse sorridente assim que me viu, forcei um sorriso e sentei-me a mesma – Como esta se sentindo?
- Legal – respondi sem encará-lo, logo Nick me serviu com duas panquecas e sentou-se a mesa.
- Estava pensando em fazemos algo diferente, o que acha? – ele perguntou – Podemos tirar férias, você merece alguns dias de folga.
- E a escola? – perguntei finalmente encarando-o, mas logo desviando.
- Estava pensando em ficarmos por lá mesmo – ele respondeu, fiquei um momento em silencio – Sabe, eu pensei que quando você saísse do reformatório essa cidade poderia te ajudar e me enganei completamente, essa cidade nunca vai esquecer do que aconteceu, então estava pensando em...
- Não posso – respondi encarando-o, Nick franziu o cenho confuso – Gosto daqui... Mesmo com tudo.
- Mas naquele dia você... – Nick começou, porém logo o interrompi.
- Estou atrasada, Nicholas – respondi levantando-me – Até mais.
- (SeuNome)... – ele chamou-me, porém já estava na sala pegando minha mochila e andando até a porta.
 Se Nicholas falasse isso há alguns dias, com certeza eu iria. Concordo com ele quando disse que essa cidade nunca irá esquecer do que eu supostamente fiz, mas algo não me deixa ir embora, tem tantas coisas para serem descobertas, varias coisas para serem esclarecidas...
- (SeuNome)! – por um momento pensei que fosse Nick ou até mesmo a policia, porém não era nenhum dos dois. Era Lauren. Vi seu carro parar ao meu lado e a vi sorrindo no volante.
- Lauren – disse sorrindo, não tive chance de vê-la.
- Quer uma carona? – ela perguntou, sorri de lado e entrei no banco carona. – Fui até sua casa, mas seu irmão disse que você já havia saído.
- Pelo menos não fui tão longe – disse e a vi sorrir.
- Minha tia não deixou vê-la – Lauren disse prestando atenção na estrada – Disse que você precisava de espaço, afinal você tinha acabado de ser inocentada. Mas então?
 Sabia do que ela queria saber, mas não sabia se estava preparada para falar sobre. Confiava muito em Lauren, ela me apoiou, mentiu para a policia, mas não sabia se devia contar.
- Ele apareceu – respondi um pouco baixo, Lauren lançou um rápido olhar para mim. – E respondeu todas as perguntas.
- E? – Lauren perguntou interessada.
- E... Thomas era um psicopata – respondi lembrando do seu olhar animalesco, então comecei a contar, pelo menos uma boa parte, que ele havia matado Megan por causa de seu pai que supostamente queria matar nosso pai, depois por Matt e por fim seu envolvimento com Nathan Foster.
- Meu Deus – ela disse – Isso é pior do que eu imaginava.
- Ele falava com tanta vontade, se eu não o conhecesse, acreditaria.
- E (SeuNome), isso não pode ser verdade? – Lauren disse e eu a encarei – Como uma pessoa pode...
- Thomas era louco, Lauren – disse – E papai sabia, é claro, e foi por isso que ele levou Thomas a um psiquiatra e foi aí que ele fez aquele acidente de carro acontecer.
- E onde esta o Thomas agora? – Lauren perguntou depois de alguns minutos, engoli o seco.
- Ele... – dei uma pausa, estava suando frio – Ele fugiu.
- O que?!
- Thomas descobriu que Demi estava gravando e tentou pegar, tentei segura-lo, mas ele era bem mais forte que eu e me jogou contra parede – disse sem encara-la – Demi correu e se escondeu no carro, Thomas não a achou e fugiu.
- Pelo menos vocês ficaram com a gravação, certo? – Lauren perguntou e então lembrei que Demi não havia falado nada sobre a gravação.
- Eu acho que sim – respondi.
- Pelo menos esta tudo bem agora, a policia irá pega-lo e você finalmente será inocentada de todas as acusações. – Lauren disse sorrindo.
***
 Lauren estacionou o carro no estacionamento da escola, desafivelou o cinto e antes de abrir a porta do carro, virou-se para mim.
- Você não vai sair? – ela perguntou olhando-me enquanto eu encarava o prédio atentamente.
- Vou, é só que... – não consegui mais continuar, estava me sentindo estranha, pensar em entrar naquela escola novamente me deixava nervosa e ainda tinha o Tim.
- Lauren – disse finalmente olhando-a – O que aconteceu com o Tim?
- Ele não foi à escola – ela disse cautelosamente, assenti e voltei a encarar o prédio – Você esta nervosa, né?
- Sim, muito – disse – É diferente agora, porque antes todos eles achavam que eu era assassina e agora...
- Alguns ainda acham – ela disse e dei um sorriso de lado – Mas existem alguns que tem a certeza agora que você não é.
- Mas...
- Vamos lá, (SeuNome) – ela disse pegando em meu ombro – Cadê aquela (SeuNome) que foi encontrar o irmão supostamente morto só para provar sua inocência?
- Eu acho que não consigo – disse encarando-a.
- Eu vou está ao seu lado, garota – ela disse sorrindo – Não se preocupe, certo?
 Assenti e sorri, desafivelei o cinto e logo estava caminhando em direção a entrada da escola com Lauren ao meu lado. Senti-me no meu primeiro dia de aula, todos olhando para mim, todos cochichando, mas ao contrario do meu primeiro dia de aula, eles me olhavam diferente, pelo menos alguns, vi algumas pessoas sorrindo para mim e outras até acenavam. Estava começando a me acostumar com aquilo e até sorrir de volta, porém o sorriso que estava para aparecer se desfez rapidamente. Em frente ao meu armário estava um grupinho, não um grupinho qualquer, mas o grupinho de Demi.
- O que...? – sussurrei para Lauren que também parecia confusa, meu olhar encontrou o de Demi e ficamos nos encarando sem demonstrar nenhuma reação, desviei o olhar rapidamente assim que vi Ally vindo em nossa direção.
- Parece que não sou só eu que acredito em sua inocência agora – ela disse abrindo os braços.
- Eles tiveram uma ajudinha – respondi separando a abraço, olhei para o grupinho que parecia me aguardar. – O que eles estão fazendo lá?
- Bem vinda de volta você que foi inocentada pela a morte do nosso amigo – Ally disse revirando os olhos. – E olha que até a Rose esta lá.
- Acho que isso não vai prestar – disse e encarei Lauren.
- Fica tranquila – ela disse dando uma piscadela, respirei fundo e andei até lá.
- (SeuNome) – foi Rose quem falou, ela tinha um sorriso forçado no rosto – Queríamos da boas vindas, já que fomos bastante idiotas com você.
- Não precisa – disse assim como ela dando um sorriso mais falso do mundo.
- É claro que não – ela sussurrou e abraçou-me, sussurrando em meu ouvido – Não pense que só porque a policia inocentou você, ainda não te ache uma assassina.
- Claro... – disse separando abraço, Rose se afastou, engoli o seco e vi Demi aproximando-se.
- Estou feliz por ter voltado – ela disse e abraçou-me, fiquei surpresa por ela ter me abraçado, assim como todos ali.
- Também estou – separei o abraço e a vi encarar o chão , logo outros garotos me cumprimentaram, uns chegaram até dizer que sempre souberam que eu não tinha matado o amigo deles, queria sair o mais rápido possível dali, aquele ambiente estava me sufocando e parece que alguém percebeu isso.
- (SeuNome), temos que ver o professor de Literatura, não é mesmo? – Lauren perguntou e eu a encarei confusa.
- Ah... – ela arqueou as sobrancelhas e logo entendi – Ah sim, claro... Até mais pessoal e obrigada por... Por isso.
- Até mais ex-assassina – Rose disse encarando-me – Ou não.
 Respirei fundo e segui para longe dali com Lauren.
***

 Demi estava sentada em uma das arquibancadas no campo de futebol, o sol batia contra seu rosto e ela olhava para frente, o vento batendo em seus cabelos ruivos, mordi o lábio e segui até lá em passos lentos.
- Procurei por você – disse encarando-a, ela deu um sorriso de lado e fez um sinal com a cabeça para que eu sentasse ao seu lado.
- Queria um momento sozinha – ela respondeu, logo me sentei e a encarei – Vi você entrando no carro da Lauren hoje.
- Ela veio me buscar – respondi, Demi assentiu e finalmente olhou-me – Como está se sentindo?
- Não sei ainda – ela respondeu – Às vezes esqueço de tudo, mas em questão de minutos que tudo volta.
- Pelo menos você tem esses minutos de esquecimento – disse suspirando – Toda vez que fecho os olhos, o vejo no meio daquelas pedras, morto, nem consegui dormir essa noite.
- Eu também não – Demi disse tocando meu rosto – Mas depois eu lembro que você salvou minha vida e...
- Não salvei a vida de ninguém – disse tirando sua mão do meu rosto – Eu matei alguém...
- Shh – Demi disse colocando seu dedo indicador sob meus lábios – Você me salvou, você nos salvou, (SeuNome). Poderíamos está mortas e Tom... Poderia está por aí matando outras pessoas.
- Acho que não vou conseguir... – não terminei a frase porque já sentia as lagrimas querendo sair.
- Você vai conseguir, sim – Demi disse pegando em meu rosto em suas mãos e encarando-me – Você nos salvou, será que é tão difícil assim de entender? Você me salvou e eu sempre, sempre serei agradecida por isso.
- Mas...
- Escuta – Demi disse séria – Você vai esquecer isso e vai viver sua vida, okay? Por você, por Nick... Por mim.