terça-feira, 21 de outubro de 2014

22. Letter.

 A única coisa que queria depois que sai do reformatório era recomeçar minha vida, estudar, conhecer novas pessoas, refazer minha amizade com Demi, coisas simples. Mas não. Não sei como estou me mantendo em pé, talvez seja a cafeína que ando tomando, eu mal durmo, não por de insônia, mas porque não consigo. Tento fechar os olhos, mas penso nos meus problemas e não consigo mais dormir. E agora só consigo pensar em Thomas, em como seu corpo foi parar em um carro. Alguém havia movido seu corpo, alguém que me viu empurrando-o, alguém que estava lá quando encontrei-me com ele, mas quem? Não me passava pela cabeça ninguém, pensei em Demi, mas acho que não seria ela, Demi ficou assustada com o que havia acontecido e não tinha coragem de voltar lá. Isso tudo era um quebra cabeça e havia várias pesas faltando.
 E ainda tinha Lauren. Eu a vi nos corredores, mas ela apenas baixou a cabeça e seguiu sem falar comigo, não acredito que perdi a única pessoa que havia acreditado em mim. Estava em uma mesa sozinha, tentando me concentrar no livro que havia pegado na biblioteca, mas era impossível. Meu olhar ia para a mesa um pouco mais afastada da minha, onde Lauren estava sentando com Ally e mais algumas pessoas.
- Posso sentar? – ouvi e olhei para cima, Demi.
- Claro – disse e rapidamente sentou-se, ficamos nos olhando por alguns minutos, Demi parecia querer falar algo, mas toda vez que abria a boca para falar algo fechava rapidamente. Fiquei tentada a perguntar se ela sabia sobre o corpo de Thomas no carro, mas algo me dizia que ela não queria falar sobre aquilo.
- O que está lendo? – ela perguntou tentando puxar assunto.
- As vantagens de ser invisível – respondi, Demi assentiu e mordeu o lábio – Você está bem?
- Sim – ela respondeu rapidamente – Estou nervosa, não é todo dia, na verdade, isso nunca me aconteceu.
- Não fique nervosa – disse dando um sorriso e logo ela retribuiu, rapidamente senti aquele clima tenso se desfazer. – Então, o que quer?
- Semana que vem é o baile – ela começou, arqueei as sobrancelhas – E eu estava pensando... Eu sei que vai parecer estranho, mas prometo não ligar para o que as pessoas irão dizer.
- Isso é um convite? – perguntei me divertindo com seu nervosismo, Demi mordeu o lábio e encarando sua bandeja, assentiu.
- Você está adorando me ver nervosa, né? – ela perguntou.
- Você não sabe quanto – respondi sorrindo, Demi revirou os olhos, mas estava sorrindo.
- E então? – por mais que estivesse adorando aquele clima que tinha ficado, eu não poderia, fechei o livro e coloquei em cima da mesa.
- Eu adoraria – respondi e a vi sorrir – Mas não posso.
- Ah... – saiu mais como um suspiro, Demi desviou o olhar – Porque não?
- Não gosto de bailes – menti – E já marquei um compromisso.
- Legal – ela disse, mordi o lábio.
- Eu adoraria, Demi, seria a melhor coisa que poderia... – comecei, mas parei – Mas não posso.
- Tudo bem – ela disse forçando um sorriso, mas sabia que estava triste – Baile é besteira, não tem problema.
- Não é besteira – disse – Só que...
- Você não pode, eu sei, já entendi – ela disse revirando os olhos, então levantou-se pegando sua bandeja – Vou deixa-la em paz.
- Demi – a chamei, Demi balançou a cabeça negativamente e antes de seguir em direção a mesa de seus amigos, virou-se para mim e disse.
- Sei por que não quer ir, e acho que você está exagerando – ela disse e senti uma amargura em seu tom de voz – Foi um acidente, (SeuNome), e acho que não deva se punir por causa disso.
  Abri a boca para falar, mas Demi já se sentava com seus amigos, baixei a cabeça e encarei minha bandeja. Estava me punindo sim, mas com razão.  
***

 Estava andando de volta para meu armário, o que Demi havia me dito estava em minha mente e não queria sair, não consegui terminar meu almoço então decidi sair do refeitório o mais rápido possível.
- (SeuNome)? – ouvi e virei-me, arqueei as sobrancelhas surpresa e fiquei um momento pensando se aquilo era tudo em minha cabeça. Ele estava exatamente igual desde a última vez que eu havia lhe visto, mas seus cabelos castanhos claros estava raspados e parecia nascer cabelos agora, uma barba rala começava a nascer, além das olheiras que haviam debaixo de seus olhos.
- Tim – disse em um sussurro, ele tinha as mãos nos bolsos da calça jeans e logo o vi vindo em minha direção – O que...
- Está surpresa? – ele perguntou, não tinha medo algum de Tim Parker, tinha até dado uma surra nele, mas agora, Tim parecia diferente.
- Um pouco – disse e o vi parar em minha frente – Lauren havia me dito que você...
- Tinha ido embora? – ele perguntou e logo assenti – Não fui, apenas passei alguns dias em casa, fui assaltado e os caras me bateram.
- Tim... – comecei – Eu sinto muito por aquilo... Eu estava nervosa, a polícia estava atrás de mim...
- Eu entendo, (SeuNome) – ele disse encarando-me intensamente – Sem problemas.
- Sério? – perguntei receosa, Tim deu um sorriso de lado e deu mais alguns passos em minha direção.
- Não sou de guardar magoa – ele disse – Eu meio que mereci, afinal inventei coisas sobre você e Demi, certo?
- Somos só amigas – respondi assentindo – E eu sinto muito por aquilo.
- Tudo bem – ele disse dando um sorriso e estendeu a mão em minha direção – Amigos?
- Amigos – disse apertando sua mão, forcei um sorriso e ele fez um mesmo.
- Vou deixá-la ir – ele disse afastando-se – Se cuida, (SeuNome).
 Isso estava estranho, poderia está errada, mas Tim não parece esquecer rápido, principalmente alguém que lhe deu uma surra. Decidi esquecer isso, já tinha bastante coisa em minha cabeça, essa não precisava ser mais uma, continuei indo em direção ao meu armário. Lauren conversava com Ally, ela estava de costas e me perguntei se ela ainda estava chateada comigo, abri a porta do armário e olhei mais uma vez para as duas, Ally logo me avistou e acenou, forcei um sorriso e acenei, Lauren virou-se e logo sua expressão mudou. Magoa, era isso que eu via em seus olhos. Logo Ally seguiu até mim puxando Lauren consigo.
- Tenho ótimas notícias – Ally disse. – Estava até falando com Lauren.
- Que notícias?
- Tim saiu do jornal – Ally disse e vi que estava bastante animada, arqueei as sobrancelhas surpresa.
- Por quê?  
- Ele veio com uma historinha que daria um tempo no jornalismo, pelo menos estou livre dele – Ally disse – Mas ele voltou bastante estranho.
- Voltou? – perguntei e vi Lauren encarar-me finalmente.
- Ele foi assaltado e os caras bateram nele – ela explicou – Ele ficou alguns dias em casa, disseram que era para não verem os hematomas.
- E ele está bem agora?
- Parece que sim – Ally disse dando de ombros – Vou ter que deixa-las, tenho que ver algumas coisas com o pessoal, vejo vocês na sala.
- Até, Ally – disse acenando, ela fez o mesmo e logo saiu, virei-me e Lauren encarava-me.
- Oi – disse sem jeito, Lauren deu um sorriso sem mostrar os dentes – Liguei para você ontem e...
- Meu celular ficou na bolsa – Lauren disse cruzando os braços, abri a boca para falar algo, mas voltei a fecha-la rapidamente, não tinha nada para falar, Lauren estava com raiva de mim e estava com razão, não confiei o bastante nela.
- Eu sinto muito – disse depois de um tempo em silencio – Não confiei em você e... Me desculpa.
- Não tem problema – ela disse – Você não quis contar, eu entendo...
- Eu queria – disse olhando-a – Mas... Não consegui.
- Como disse antes, não tem problema – Lauren falou e senti a magoa em sua voz – Mas pensei que éramos amigas.
- Nós somos amigas, Lauren – disse – Confio em você mais do que... Mais do que qualquer outra pessoa.
- Então porque não me contou sobre o Tom? Sobre como ele foi morto? – ela perguntou, desviei o olhar para o chão – Quer saber? Tenho que ir à aula.
 Abri a boca para protestar, mas Lauren já seguia em direção a sala, passei as mãos pelo os cabelos e suspirei, tinha acabado de perdê-la.
***

 Não voltei para sala de aula, peguei minhas coisas e sai da escola sem ninguém me ver, não conseguia ficar lá. Abri a porta de casa com cuidado, esperando Nick está sentando no sofá assistindo alguma coisa na TV, mas a sala estava silenciosa e a casa também, Nick deve ter ido trabalhar ou ter saído. Subi as escadas e fui em direção ao meu quarto, porém parei, virei-me e andei até lá. A porta estava trancada, onde Nick deixava as chaves? Vamos lá, (SeuNome), onde... Andei até seu quarto e estava aberto, havia uma caixa em cima do criado mudo, a abri e lá estava uma chave. Uma vez enquanto Nick me visitava no reformatório o ouvi dizer que guardava as chaves em uma caixinha em cima do criado mudo, ele sempre pagava alguém para manter aquele quarto limpo. Me surpreendi em ver que era verdade, não havia muita poeira já que todos os moveis eram cobertos por um pano branco. Reconheci a cama, o guarda roupa, a penteadeira, a escrivaninha, fechei os olhos e lembrei de papai e mamãe ali, muitas vezes brigando e poucas vezes sorrindo um para o outro, fui até a escrivaninha e tirei o pano jogando-o no chão. Ela parecia bem cuidada, passei os dedos pela madeira e sentei-me na cadeira que muitas vezes vi meu pai sentado. Se me concentrasse o bastante, poderia senti seu cheiro ali, abri os olhos e vi três gavetas, porém algo me chamou atenção. A última gaveta tinha envelopes, milhares deles, peguei os envelopes, mas acabei me arrependendo, todos eles estavam vazios, apenas envelopes. Balancei a cabeça negativamente e então minha atenção foi para um envelope, parecia novo já que sua cor não estava amarelada como os outros e não parecia faltar nenhum pedaço nas pontas, o peguei e o avaliei. Passei os dedos pelo o envelope, respirei fundo e o abri. Era uma bela caligrafia e mesmo que não tivesse lido de quem tinha dado aquela carta para meu pai, eu poderia imaginar que era dela. Enquanto analisava sua caligrafia perfeita, fiquei pensando no que tinha escrito ali, respirei fundo novamente e comecei a ler.
 “John, eu sinto muito. Sinto muito por não ter conseguido. Eu queria, queria sim fugir com você, mas não consegui. E acho que você também não conseguiria, principalmente agora que Anne está grávida novamente, com certeza você não a deixaria, não deixaria que ela cuidasse de uma criança sozinha. Mas quero te agradecer, se você não tivesse feito essa proposta, eu não poderia abrir os olhos para a realidade. Eddie é um homem bom, sei que irá cuidar de mim e dessa criança que estou carregando, assim como você cuidará de Anne, Nick e dessa garotinha que irá nascer. Sei que o magoei, mas eu tive que fazer isso, para o bem de toda nossa família, espero que entenda e principalmente espero que entenda que não podemos nos encontrar mais, como disse antes, quero começar uma família com Eddie e sei que quer ter uma família com Anne. Sempre vou amar você, John, é uma pena que o nosso amor não deu certo, espero que compreenda
Dianna.”
 Tive que ler e reler a carta. Papai amava a mamãe, ele sempre dizia isso á ela, eu sempre escutava... E Dianna... Ela tinha um bom relacionamento com Eddie, os via feliz quando mamãe os chamava para jantar em casa e também via o jeito que papai ficando quando ela chegava com Eddie... Nunca entendi, mas agora eu sei, papai tinha um caso com Dianna.

2 comentários:

  1. A primeira a comentar!!Parabens, você escreve muito bem, venho aqui todo santo dia ver se tem um novo post!!Me surpreende com esse final!!Por que parou aí??Posta mais Okey?

    ResponderExcluir
  2. Cara, é uma das melhores histórias que eu leio, e me surpreende absurdamente ter apenas um comentário, sério tu escreve de uma forma realmente perfeita parabéns, continue por favor

    ResponderExcluir